12 de jul. de 2005

Manhãs de Inverno

la luna – 07jun004

Não sei exatamente explicar este sentimento, mas as manhãs são tristes.

Sobremaneira tristes são as manhas de inverno, quando o sol tíbio luta por vencer a cortina de vapor que cobre a natureza e encobre os pés dos primeiros transeuntes do dias.

Quando alcanço a soleira da porta encontro, reverentes, todos os meus fantasmas, imagens de uma vida que não vivi por opção ou falta dela, prontos a acompanhar-me no trajeto matinal ao som dos primeiros gorjeios da manhã.

Sorriem-me alegres e perfilam-se às minhas costas com suas correntes enormes e barulhentas cantando serenatas ao amor perdido e as horas intermináveis que se estendem entre as sete e o meio-dia.

Apresso o passo, anseio por adentrar ao prédio fervilhante de gente, de vozes e movimento saltando do silencio amedrontador das ruas matinais: não adianta, colam-se a mim e não se desgrudam a menos que o palestrante seja eloqüente e envolva a minha mente em devaneios outros!

O sol do meio-dia é minha redenção. Sob seu calor protetivo situo-me no presente e, pés fincados a(à) realidade, posso prosseguir na faina diária sem fantasmas brancos de amores inacabados, crianças risonhas ou adolescentes sonhadoras de outrora, oportunidades perdidas, coisas partidas como cais de barcos à vela.

Não preciso salvar o mundo sob o sol do meio-dia, mas nas primícias matinais estes vestusos senhores cantam aos meus ouvidos tudo que desejei e sonhei, tudo que aprendi e jurei fazer.

As juras... Sombras adolescentes que voltam sempre como infinitos em torvelinhos, como fantasmas cambaleantes de algo para sempre perdido!

São tristes, definitivamente tristes as manhas de inverno!

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