12 de jul. de 2005

Lembranças da Medina

la luna - 26jul04

Os corredores da Medina tinham personalidade própria. Eram um caleidoscópio cujas figuras modificavam-se a cada minuto e possuíam cores vivas e aromas exóticos. O sol conferia aos corredores estreitos uma mágica de luz e sombra que em lugar algum poderia ser vista igual.

As duas mulheres que conversavam à porta da loja de tinturas eram paradoxalmente semelhantes e distintas em seus aspectos particulares. Uma egípcia e uma moura, determinadas, decididas, firmes e aparentemente doces.

A egípcia e seu cabelo escandalosamente curto, tez morena e olhos negros, profundos. A moura possuía cabelos longos e brilhantes e em sua retina aveludada o traço negro da pupila mais parecia uma partícula suspensa em uma gota de mel.

- Não consigo entender, mas há espaços, regiões, singularidades da mente e do coração dele, que só você entende. São inacessíveis a mim, por mais que tente! Esse é um elo que ninguém pode romper.

Virou-se e partiu não dando tempo ou oportunidade para resposta...

Tantos anos haviam transcorrido e essas lembranças ainda voltavam junto com o aroma das camélias e dos jasmins noturnos e, quando isso acontecia, a visita das lembranças, era inevitável lançar o olhar através do balcão de ferro e vislumbrar a linha do horizonte distante.

Para além da bancada nada existia que não fosse a imensidão do oceano com as jangadas voltando do mar, os telhados vermelho-terracota e o extenso rio, em cuja alusão chamaram as margens de Rua da Praia.

Finalmente conseguira entender a dor que pressentira anos atrás. As palavras daquela mulher só agora faziam sentido... E essa compreensão aumentava a solidão do retiro das lembranças.

No horizonte não havia navios chegando, nem o som atordoado das medinas!

Desceu as escadas a passos decididos, como um raio de sol que se despede da tarde. Sob a magnólia em flor recomeçou seu bordado...

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