5 de mai. de 2006

Ave Maria, grazia plena!

15abr006

Thamar

O tempo passou sem que sentíssemos. Trouxe-nos alguns cabelos brancos a mais, juntou marcas de expressão e mais algumas assinaturas na alvura da pele. Desmanchou sonhos plantando outros, semeou sorrisos enquanto destruiu projetos; silenciou a gargalhada, ensinou a reflexão.

Houve aqueles arrancados de nossa companhia, prematuramente ou não, e houve aqueles que se ajuntaram a nós na marcha incessante da vida. Tanta coisa muda que se torna impossível precisar, marcar com determinada certeza os acentos do tempo, uma coisa, no entanto, não mudou e nem vai mudar: a estranheza do homem frente ao mar; meu estarrecimento diante da sua grandeza.

Uma grandeza silenciosa como a das grandes montanhas, um ensurdecedor barulho de borboletas voando no céu azul de uma manhã de verão, o trovão no meio da noite e a curiosidade respeitosa do peregrino no meio da noite, no centro do deserto, no umbral do nada, no meio do mar revolto.

Sempre em sua presença me calo e a sua figura suavemente austera lembra o título de um romance jamais lido: Pequenina diante de Ti .Repentinamente emudecida, o tempo recrudesce e, paralisada, sou o aborígine diante do mar, o errante sob o céu estrelado, a muda interrogação do cientista...

Todas as palavras imediatamente tornam-se sem significado, idiotas demais para serem ditas e o silêncio constrangedoramente me parece a única postura a ser tomada no momento.

Curvo-me respeitosa e me retiro, nada há que possa ser feito, há muito perdemos o direito ao paraíso e às estrelas cabe-nos tão somente admirar.

A lua de Eostre corre nos céus da redenção, Ave Maria, graccia plena!

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