13 de mai. de 2006

Mistérios D’água

6mai006

Thamar

Há coisas para as quais não há explicação, ao menos aparentemente. Um dia de sol, uma manhã chuvosa, notícias de um jornal velho que voa pela calçada ou palavras ouvidas ao acaso, tudo são possibilidades que podem mudar a vida de uma pessoa.

Possivelmente era verão; lembrava-se, ao menos, de um calor intenso e da suave brisa que soprava. Quando se anda no deserto por tanto tempo, perde-se a noção dos dias, do clima e da finitude.

No deserto tudo é imenso, belo e sem vida. Nada, além da areia, muda de lugar: nem o calor, nem o sol, nem o horizonte e fora exatamente isso o que lhe chamara a atenção: a brisa era um componente novo e o inusitado de sua presença assustava, quebrando a mesmice da paisagem.

Dias depois viu o oásis e a sombra acolhedora de suas palmeiras, tâmaras frescas e água da fonte assemelhavam-se a um delírio, privação de sentidos pelo cansaço da viagem.

Despiu-se sem pudor – como todos que se sabem sós –, lavou a face e mergulhou os pés cansados na água fresca. Sentiu a vida voltar às veias e quando a noite chegou, o céu, repleto de estrelas, sussurou-lhe o mistério do infinito que se opõe a fugacidade da vida, entendendo que as paisagens estão primeiro na alma e depois nos olhos, levando tempo para tornarem-se caminho.

Aprendeu a canção da roldana trazendo água para o menino e do mar quebrando na praia.

Adormeceu sorrindo.

Repentinamente entendera que o deserto era apenas a paisagem de uma parte do universo!

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