Lembranças da Medina
la luna - 26jul04
Os corredores da Medina tinham personalidade própria. Eram um caleidoscópio cujas figuras modificavam-se a cada minuto e possuíam cores vivas e aromas exóticos. O sol conferia aos corredores estreitos uma mágica de luz e sombra que em lugar algum poderia ser vista igual.
As duas mulheres que conversavam à porta da loja de tinturas eram paradoxalmente semelhantes e distintas em seus aspectos particulares. Uma egípcia e uma moura, determinadas, decididas, firmes e aparentemente doces.
A egípcia e seu cabelo escandalosamente curto, tez morena e olhos negros, profundos. A moura possuía cabelos longos e brilhantes e em sua retina aveludada o traço negro da pupila mais parecia uma partícula suspensa em uma gota de mel.
- Não consigo entender, mas há espaços, regiões, singularidades da mente e do coração dele, que só você entende. São inacessíveis a mim, por mais que tente! Esse é um elo que ninguém pode romper.
Virou-se e partiu não dando tempo ou oportunidade para resposta...
Tantos anos haviam transcorrido e essas lembranças ainda voltavam junto com o aroma das camélias e dos jasmins noturnos e, quando isso acontecia, a visita das lembranças, era inevitável lançar o olhar através do balcão de ferro e vislumbrar a linha do horizonte distante.
Para além da bancada nada existia que não fosse a imensidão do oceano com as jangadas voltando do mar, os telhados vermelho-terracota e o extenso rio, em cuja alusão chamaram as margens de Rua da Praia.
Finalmente conseguira entender a dor que pressentira anos atrás. As palavras daquela mulher só agora faziam sentido... E essa compreensão aumentava a solidão do retiro das lembranças.
No horizonte não havia navios chegando, nem o som atordoado das medinas!
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